Por que estudar pastagens é importante para o futuro do planeta?
Trabalhos realizados pelo Programa de Pesquisas em Pastagem destacam como o manejo sustentável pode transformar a produção agropecuária, proteger ecossistemas e mitigar as mudanças climáticas
Texto por Isadora Otto
O Brasil é um dos maiores exportadores de produtos de origem animal no mundo, e as pastagens constituem um ecossistema importante para a pecuária brasileira. O Programa de Pesquisas em Pastagem do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás (UFG), consiste em mapear e a avaliar o potencial de imagens de satélites para monitorar a condição e potencial produtivo das pastagens do biomas brasileiros e pastagens do mundo (pelo Global Pasture Watch).
Estudar pastagens é fundamental para promover o desenvolvimento sustentável, porque elas desempenham um papel estratégico na produção agropecuária e na conservação ambiental. Grande parte das pastagens brasileiras apresenta algum grau de degradação, o que resulta em baixa produtividade e aumenta a pressão por novas áreas de cultivo. Essa expansão muitas vezes está associada ao desmatamento de biomas importantes, como a Amazônia e o Cerrado.
Ao mapear o vigor das pastagens, podemos identificar áreas com indícios de degradação e subutilizadas e promover a recuperação desses terrenos, aumentando sua produtividade sem necessidade de expansão de novas áreas, consequentemente, da fronteira agrícola. A restauração dessas áreas, por meio de técnicas como adubação, manejo correto e integração com sistemas silvipastoris, contribui para sequestrar carbono, melhorar a qualidade do solo e conservar recursos hídricos.
O professor Laerte Ferreira, coordenador do Programa de Pesquisas em Pastagem do Lapig, explicita a contribuição social promovida pelos estudos do Lapig: “Os nossos dados são públicos, gratuitos e abertos, acreditamos muito na ciência colaborativa, e também, mais do que nunca, as universidades públicas precisam se engajar nos grandes problemas nacionais, nós precisamos gerar conhecimento que possa ir ao encontro das grandes demandas da sociedade”, elucidou Laerte.
O mapeamento das áreas de pastagens brasileiras é realizado para que se possa avaliar o nível de degradação ou vigor das terras como: ausente, intermediário e severa. Isso porque será designada a classificação da pastagem para determinar o uso sustentável dessas áreas. É possível categorizar também, a qualidade da terra pelo o estoque de carbono do solo.
As pastagens são mapeadas utilizando imagens de satélites como MODIS, Landsat ou Sentinel. A estrutura de mapeamento integra modelos de aprendizado de máquina, particularmente o Random Forest, permitindo o monitoramento de pastagens em escala global. Além disso, a equipe especializada de inspeção de imagens, que gera amostras de treinamento por meio da interpretação visual das áreas de pastagens, garante maior precisão e confiabilidade nos modelos utilizados.
Os dados gerados pelo Programa de Pesquisas em Pastagem incluem o mapeamento anual das áreas de pastagem no Brasil, com precisão de um hectare, desde 1985 até os dias atuais. A equipe de Interpretação de Imagens do Lapig, faz um trabalho minucioso para gerar amostras de treinamento e validação dos mapeamentos utilizando a ferramenta chamada Temporal Visual Inspection (TVI). Para cálculos de acurácia é aplicada uma matriz de erro, que identifica se uma área mapeada corresponde, de fato, a pastagens, e com quais classes apresentam confusões (erros de omissão e comissão).
Para validar os mapas produzidos pelo Lapig e subsidiar pesquisas voltadas à qualificação das pastagens brasileiras, são realizadas também atividades de campo. Busca-se compreender as dificuldades e especificidades relacionadas à avaliação das pastagens em cada um dos seis biomas brasileiros.
A doutoranda Nathália Teles, coordenadora de campanhas em campo do Núcleo Pastagem descreve como é realizada a pesquisa em campo: “A ideia é que a gente consiga trazer subsídio para que os intérpretes de imagens correlacionarem o que vemos em campo com o que eles estão vendo ali nas imagens satelitárias”, relata.
Desenvolvimento sustentável
A pesquisa sobre pastagens tem como objetivo avaliar o solo para viabilizar o manejo adequado das terras e prevenir o desmatamento precoce. “As pastagens constituem a principal forma de uso das terras no Brasil, cerca de 90% de toda área desmatada no Brasil já foi, em algum momento, pastagem. Então a pastagem tem uma importância muito grande no Brasil” explica Laerte.
Além disso, pastagens bem manejadas fornecem insumos para sistemas produtivos eficientes, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e promovendo cadeias produtivas mais sustentáveis. Essa abordagem alia produção econômica à preservação ambiental, destacando-se como uma solução central para frear o desmatamento e impulsionar a sustentabilidade na agropecuária.
Os dados gerados pelo Lapig fazem parte das coleções anuais do MapBiomas Brasil, que orientam políticas públicas e tomadas de decisão pelas várias instâncias governamentais. Além disso, por meio da Organização Não-Governamental (ONG) “World Resources Institute” (WRI), e em parceria com diversas universidades e centros de pesquisas internacionais, o Lapig faz parte do Global Pasture Watch (GPW). O consórcio tem entre os seus objetivos o mapeamento e monitoramento global das áreas de pastagem, visando a conservação e melhor desenvolvimento sustentável.
Para conhecer mais sobre, leia a matéria do último Workshop do GPW. Acesse: Workshop do Global Pasture Watch em Pirenópolis
Atlas das Pastagens
O Atlas das Pastagens é o principal produto do Programa de Pesquisas em Pastagens. A ferramenta disponibiliza dados sobre as pastagens brasileiras, incluindo resultados e produtos gerados no âmbito da iniciativa MapBiomas.
A plataforma permite a visualização de informações geograficamente espacializadas, permitindo também selecionar as regiões de interesse e fazer o download dos dados.
A plataforma disponibiliza três principais bancos de dados: mapeamento das áreas de pastagens no Brasil, vigor das pastagens e estoques de carbono nas áreas de pastagens. Além disso, também estão disponíveis as amostras de treinamento (inspeção visual) e validação, pontos de campo, e dados de rebanho bovino (em Unidade Animal e Número de Cabeças) estimados pelo Lapig com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diversas camadas complementares provenientes de fontes diversas (e.g.: CAR, infraestrutura, áreas especiais) também estão disponíveis com o objetivo de auxiliar os usuários nas análises das pastagens.
Para acessar a plataforma, clique aqui: Atlas das Pastagens