Como o Brasil enfrenta queimadas e incêndios florestais: iniciativas e aplicativos para acompanhar
Centros de pesquisa e órgãos públicos estão buscando alternativas para combater o problema histórico
Texto: Isadora Andrada
A quantidade de incêndios florestais no Brasil têm aumentado exponencialmente nos últimos meses. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 60% do território nacional sofre com o tempo seco e, de janeiro a setembro, o país acumula 200 mil focos de incêndio, 10 mil a mais do que em todo o ano passado. De acordo com a Polícia Federal, a maioria desses focos de incêndio se tratam de queimadas, quando o fogo é causado por ação humana.
Diferença entre queimadas e incêndios
Embora ambos possam causar danos severos ao meio ambiente, há uma diferença técnica entre queimadas e incêndios florestais. Queimadas são geralmente planejadas para a limpeza de áreas agrícolas ou pastagens, ou até mesmo para prevenir incêndios, elas são controladas, porém, se mal executadas, podem se espalhar e gerar incêndios. Incêndios florestais, por outro lado, são descontrolados, naturais ou provocados, e se espalham rapidamente por grandes áreas, causando devastação.
O segundo bioma mais afetado pelos incêndios no Brasil é o Cerrado. Nessa perspectiva, o professor e pesquisador adjunto do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento (Lapig), Nilson Clementino Ferreira, esteve recentemente na Assembleia Legislativa de Goiás para uma mesa de debate com o tema "Contribuições para a preservação do Cerrado". Na ocasião, o especialista pautou o manejo das terras e afirmou que “são necessárias políticas públicas que melhorem a utilização dessas áreas degradadas, estabelecendo reservas de crédito de carbono e unidades de preservação com reflorestamento”.
Enquanto laboratório e centro de pesquisa, o Lapig já realizou alguns projetos dentro de seu Núcleo de Estudos e Pesquisa em Ciência do Fogo (Nepef), grupo que é coordenado pela professora Noely Ribeiro. Um dos destaques são os resultados da Chamada CNPq/PREVFOGO-IBAMA 33/2018, que são listados no livro “Avanços no Conhecimento Sobre Monitoramento, Ecologia e Manejo Integrado do Fogo”, juntamente às conquistas de outras instituições e equipes. Por meio de pesquisas na área de geotecnologias e a competência técnico-científica da equipe, o Nepef participou da chamada com o projeto “Desenvolvimento de modelo preditivo de risco de incêndio florestal para o território Quilombola Kalunga”. Com essa iniciativa, criou dois aplicativos para smartphones, implementados dentro do Quilombo Kalunga, além de produzir modelos de risco de incêndio e de espalhamento de fogo. A equipe ainda ministrou cursos e validou o mapeamento da série temporal das áreas acometidas por fogo em todo o território nacional pelo MapBiomas Fogo.
Iniciativas Nacionais
Em nível nacional, para lidar com a situação que perdura há anos e se intensificou em 2024, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes (ICMBio) adotam, em áreas que são de suas respectivas competências, o Manejo Integrado do Fogo (MIF), uma política fruto do Projeto de Lei (PL) 1.818/2022. Esse plano de ação considera aspectos ecológicos, socioeconômicos e técnicos para planejar e executar ações relacionadas à prevenção de incêndios. Representado visualmente por um triângulo, com os componentes que sustentam seu funcionamento: Manejo do Fogo, Cultura do Fogo e Ecologia do Fogo.
Aplicativos
Para melhorar o combate às queimadas, o estado de Goiás desenvolveu um aplicativo móvel, em parceria com o Corpo de Bombeiros, que identifica focos de queimadas usando imagens de satélite e envia alertas automáticos. O aplicativo Monitor de Queimadas de Goiás possui acesso gratuito e permite que o cidadão tenha acesso a informações de onde ocorreram os focos de incêndio em seu município, além da possibilidade de registrar uma queimada, podendo enviar fotos e vídeos que auxiliem na denúncia. As autoridades então são acionadas para irem até o endereço, guiados pelas coordenadas fornecidas pelo aplicativo.
Outra iniciativa foi implementada pelo Ministério Público do Amapá, que criou um aplicativo com objetivos semelhantes ao Monitor de Queimadas de Goiás, mas que pode ser utilizado em todo o Brasil, com funções amplas. A ferramenta "Radar Ambiental" permite que qualquer pessoa visualize locais de crimes ambientais (como desmatamento e queimadas), crises hídricas ou irregularidades em geral. O cidadão pode fazer denúncias e acompanhar o status de ocorrências previamente registradas.
Caminhos para a preservação ambiental e saúde pública
O aumento das queimadas e incêndios no Brasil exige ação coordenada e eficiente entre governos, centros de pesquisa e a sociedade. Iniciativas como o Manejo Integrado do Fogo (MIF) e o uso de tecnologias de monitoramento, combate e prevenção, como os aplicativos mencionados, são fundamentais para solucionar o problema. A conscientização sobre as causas e consequências da ocorrência de fogo e a colaboração entre todos os envolvidos são essenciais para mitigar os impactos ambientais e proteger tanto os ecossistemas quanto a saúde pública. Somente com uma abordagem integrada será possível reduzir os danos causados pelo fogo e garantir a preservação dos biomas brasileiros.