Imagem do bioma cerrado

Um Cerrado a se preservar

Pesquisadora do Cerrado, Elaine Silva revela dados sobre histórico de ocupação do bioma

Isaac Mendes

Imagem do bioma cerrado
Imagem de vegetação do bioma Cerrado, Lapig

 

Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em consulta via Lei de Acesso à Informação (LAI),  a área de preservação do bioma Cerrado nos últimos quatro anos cresceu 0,7 % de 2019 até 2023. Foram protegidos 121 mil hectares, uma área de quase duas vezes o tamanho da região metropolitana de Goiânia. Ainda assim, de 2014 até 2018, foi protegida uma área dez vezes maior do que a do último censo.

A professora Elaine Silva, coordenadora do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), relata que esses valores são preocupantes, e porque essas áreas são tão importantes:

"Qualquer crescimento que nós tivermos de área de preservação é importante. Só que o crescimento apresentado ainda é insuficiente, pois não acompanha o ritmo da degradação. Nós temos um histórico de ocupação do Cerrado no qual em pouco mais de quatro décadas foram perdidos praticamente a metade de todo o bioma. E quando falamos em metade do bioma, nós não podemos pensar assim: 'ótimo, a metade está conservada!' Então, se parar de desmatar hoje, está bom? Não, não está. Porque a metade que temos preservada, ela tem muita fragmentação."

Elaine ainda explica que essa fragmentação, prejudica a formação do corredor ecológico entre espécies. O corredor, muitas vezes, é o que garante a dispersão de sementes, e o deslocamento de animais específicos da região. "Não garante também a regulação do clima, que é um dos principais elementos quando se pensa em preservação, em razão do que a gente está vendo nos últimos anos. Cada vez mais estamos tendo secas severas, chuvas mais intensas em um curto período e aumento da temperatura", completa.

"Então, quando a gente fala em preservação, ótimo que a gente teve um aumento de área, mas ele ainda é insignificante em razão do tanto de área desmatada e da fragmentação que se tem ao longo do bioma."

Lapig na área

Há quase seis meses atrás, em novembro de 2023, foi criado o PP Cerrado. Um projeto de ação para o controle do desmatamento e das queimadas do bioma. E uma reunião governamental (apresentação da reunião) no fim do mês passado, prevista por esse projeto, deixou claro que um dos principais desafios é o monitoramento do bioma. Por isso, Elaine descreveu quais pesquisas e produtos do laboratório auxiliam na preservação dessas áreas.

"Nós temos diversas atuações. Esse projeto [o PP Cerrado] é uma ação oficial do governo e nós atuamos junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE, nesses monitoramentos. Ao longo dos anos temos trabalhado conjuntamente na validação desses dados. [...] Atuamos também junto à rede MapBiomas, que faz mapeamento anual de uso e cobertura das terras de todos os biomas brasileiros, o Lapig faz o mapeamento da pastagem e a acurácia desses de todos os dados. Embora sejam dados feitos com imagens de satélite, esses dados precisam passar por um rigor também estatístico e de comprovação da confiabilidade desses dados."

 

Elaine selfie
Elaine em selfie, portando camisa do MapBiomas. 

 

A verificação acontece também em campo, checando se as áreas de desmatamento apontadas, realmente são desmatadas. A parceria com o Mapbiomas ainda oferece imagens capturadas por iniciativas privadas, muitas vezes em maior resolução. Ações desse tipo têm colocado mais dados na mídia, deixando as pessoas mais conscientes em relação à urgência de preservar e coibir os desmatamentos existentes.

"A rede MapBiomas tem um outro portal que se chama MapBiomas Alerta, que são dados de desmatamento disponibilizado por meio dessa plataforma. Aqui no Lapig a gente faz os dados para o Cerrado, e para o bioma Amazônia. Auxiliamos também os demais biomas, mas esses estão [especificamente] a cargo do Lapig", reitera a professora. 

Rede MapBiomas e Terra Brasilis do INPE, têm dados do Lapig. "Temos o Atlas das pastagens também, porque nós entendemos que a pastagem, por ser a classe de mais uso de terras no Brasil, carece de informações mais detalhadas quanto à sua espacialização ao longo dos biomas e seu vigor. Essas informações são fundamentais para pensar políticas de otimização desses espaços, melhorar esses ambientes", acrescenta.

Planos para o presente

Sobre o futuro recente da instituição e sua perspectiva, Elaine afirma: "Nós temos a perspectiva de várias ações, dentre elas o mapeamento detalhado do Cerrado Goiano, uma ação junto à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás, a SEMAD, na qual mapear, na escala de 1:20.000, toda a vegetação que ainda existe, possibilitando responder: Onde é que ela está? Quais são as fitofisionomias? É uma vegetação mais densa, mais rala? [...] Os gestores terão mais elementos para subsidiar políticas de preservação e de recuperação de áreas."

O que deve ser feito

No ponto de vista da entrevistada, ações como incentivo à preservação devem ser ativas, pois as áreas devem ser ampliadas. Dessa forma, poder reverter o quadro atual do Cerrado, que é o bioma que mais perde área de vegetação nativa para o Agro no Brasil.

"Hoje [o que fazemos] seria uma ação mais próxima desses produtores, incentivando eles a recuperar o que já está perdido — áreas que já estão degradadas ou áreas com muita ocupação, que precisariam passar por um processo de recuperação parcial. [...] — e quem ainda tem alguma coisa em pé, que preserve! [...] São ações, [...] mais enérgicas e rápidas para a gente não ter tanto prejuízo, igual aponta-se o nosso futuro próximo".